A – Introdução: aprendizagem por tentativa e erro e as altas taxas de insucesso

No post anterior, Dificuldades da Meditação, vimos que dentre as pessoas que, em algum momento das suas vidas, se convenceram que seria bom para elas praticarem meditação, a grande maioria tentou e não conseguiu seguir adiante. Não conseguiu seguir praticando a meditação continuadamente e consistentemente.

E essas pessoas, ao se depararem com a impossibilidade de ir adiante, aceitaram as explicações correntes, acreditaram nas pseudodificuldades como sendo a causa do seu insucesso.

Por não conhecerem o que de fato é a meditação, e quais são as suas reais dificuldades, acharam que poderiam aprender a praticá-la – e manter-se praticando – sem qualquer instrução especial.

E, pior que isso, sem a assistência de pessoa que tivesse um conhecimento especializado e aprofundado do assunto.

Em outras palavras, a grande maioria das pessoas que tentaram começar a praticar meditação, começaram com instrutores que não estavam devidamente capacitados; ou, o que é ainda muito mais frequente, tentaram aprender por si mesmas, usando uma ou outra dica obtida aqui e acolá.

As iniciativas delas podem ser classificadas, todas, dentro da classe geral da aprendizagem por tentativa e erro.

É claro que a aprendizagem por tentativa e erro é eficaz em muitíssimos casos de tarefas a aprender.

Por exemplo, todos nós aprendemos a grande maioria das tarefas de casa – lavar louça, preparar refeições básicas, etc. – por tentativa e erro.

E aprendemos ainda a realizar um sem-número de outras tarefas dessa mesma forma.

De modo geral, a aprendizagem por tentativa e erro é mais bem-sucedida quando podemos nos espelhar em um modelo: quando podemos ver alguém que já tem a habilidade realizando a tarefa.

Mas para aprender a meditação, a aprendizagem por tentativa e erro muito raramente poderá funcionar.

E isso por duas razões.

  • Primeira: a meditação é um processo realmente complexo.
  • Segunda: a meditação é um  processo composto por atividades interiores, atividades que não podemos ver outras pessoas executando-as, atividades que não podemos, portanto, emular ou imitar.

E o resultado todos nós já conhecemos: as altas taxas de insucesso.

Ou melhor, as altíssimas taxas de insucesso, quase cem por cento de insucesso.

O objetivo deste post é revelar um segredo quase nunca antes revelado.

Com ele, veremos quais são as condições apropriadas para que haja sucesso na aprendizagem da meditação. Aprendendo de modo eficaz, fica muito mais fácil manter, depois, a prática consistente e continuada da meditação.

B – Um segredo quase nunca revelado

Há um segredo sobre esta questão de aprender a meditar. É algo que quase nunca é citado ou revelado.

A literatura não especializada – sites, blogs, revistas, etc. – quase nunca fala desse segredo. E muito frequentemente não fala porque não sabe.

Mas mesmo na literatura mais especializada sobre o assunto, esse fato também é raríssimamente citado; é dado por suposto, esquecem de enfatizar esse segredo.

E por que esquecem? Porque geralmente são textos escritos para um público selecionado, composto por pessoas que já são membros de uma escola de desenvolvimento interior: alunos de mosteiros, escolas de iogues, escolas taoístas, etc.

E o segredo é muito simples: é praticamente impossível uma pessoa aprender a meditar sozinha, isto é, sem uma longa preparação com alguma pessoa que tenha, ela mesma por sua vez, passado por uma longa preparação com alguém que já dominasse o processo.

Vamos colocar de outra forma: a meditação é uma dessas competências que só podem ser aprendidas através da interferência de um instrutor experimentado.

Coloquemos de uma forma ainda mais contundente: a meditação séria, bem feita e que gera resultados reais, continuadamente, vem sendo transmitida de instrutor a aluno desde tempos imemoriais; é uma corrente, com muitas ramificações, que vem desde o fundo dos tempos, tempos dos quais nem mesmo sequer fazemos ideia da existência deles.

C – Aprender a meditar de modo competente

Alguém poderia dizer a essa altura:

“Opa! já sei como fazer para que muitas pessoas passem a aprender e a praticar bem a meditação. Vamos reunir a galera pelas mídias sociais e fazer umas lives” (apresentações ao vivo, através de site de videoconferências); “com esse recurso, um único instrutor perfeitamente qualificado poderá ensinar milhares de pessoas a meditar”.

Bem, a coisa muito provavelmente não vai funcionar.

No mínimo, não vai funcionar para a esmagadora maioria das pessoas que estiverem tentando aprender.

Ou seja, as pessoas não vão aprender a meditar de modo competente.

Meditar de modo competente envolve três aspectos:

  • Em primeiro lugar, a pessoa precisa ser capaz de engajar-se sozinha em sessões de meditação e manter tais sessões com duração apropriada: com razoável duração (de 30 a 40 minutos); com boa duração (40 a 50 minutos); ou com ótima duração (50 a 60 minutos);
  • Em segundo lugar, a cada sessão, ou na grande maioria delas, a pessoa precisa chegar a atingir um nível adequado de profundidade, ou seja, atingir um nível de profundidade tal que se possa obter os benefícios já citados da meditação;
  • E em terceiro lugar, a pessoa deve ser capaz de praticar continuadamente a meditação. Isso significa praticar meditação por meses e anos a fio. E significa que, em cada mês, se tenha uma sessão de prática no mínimo em metade dos dias do mês; se possível em dois terços dos dias; idealmente, em torno de 90% dos dias.

O que falamos acima significa que somos contra as lives ou videoconferências de meditação?

Não significa. Não somos contra. Ao contrário, achamos que elas podem desempenhar um papel muito importante de ajudar as pessoas. Ajudá-las a conseguir um mínimo de concentração do seu mental – e um mínimo de apaziguamento do seu coração – no meio das tantas demandas e pressões da vida cotidiana.

E podem ajudar muitas pessoas ao mesmo tempo, dezenas, centenas, até milhares.

Mas não devemos confundir isso com aprender a meditar de modo competente.

Você conhece o aforismo tradicional que diz: “se deres um peixe a um homem, ele se alimentará por um dia; se o ensinares a pescar, se alimentará por toda a vida”.

Dar um peixe a um homem, a uma pessoa, é gesto maravilhoso; pode aliviar o sofrimento da pessoa, pode tirá-la de uma situação crítica e pode até salvar a vida dela. Sempre que uma pessoa estiver com fome e havendo condições para isso, devemos sim dar um peixe a ela.

Mas há pessoas que podem estar em condições de querer aprender a pescar; querem tornar-se autossuficientes para sempre. É para essas pessoas que estamos escrevendo aqui, compreende?  

Vejamos então, a seguir, o porquê de não ser muito produtivo ensinar e aprender meditação, através de vídeos – ao vivo ou não – ou através de livros, de áudios, etc.

D – A meditação com o instrutor e a meditação em grupo

Há um filme baseado em um livro escrito nos anos trinta do século vinte.

O autor do livro, o Grande Sábio, descreve uma cena vivida por ele durante a sua juventude de aprendiz.

Um homem, um ancião, está sentado à sombra de uma árvore, de costas para seu gigantesco tronco.

A  árvore situa-se em uma pequena praça, despida de qualquer outro ornamento, apenas o chão batido, ao lado de ruas de terra, em um pequeno vilarejo qualquer, nos confins da Ásia Menor.

Estamos no último quarto do século XIX.

Sentadas no chão, ao redor do ancião, encontram-se cerca de uma dúzia de pessoas, seus alunos.

Nessa reunião, entre outras coisas, aprendem a meditar.

Essa cena, tocante e eterna por natureza, evoca-nos a falar dos dois tipos de aula de meditação, digamos assim:

    • a meditação com o instrutor, e
    • a meditação em grupo.

Falemos sobre a meditação com o instrutor.

Em muitos manuais sérios esse tipo de meditação é citado e comentado.

Podemos encontrar referências sobre ele em vários textos da literatura cristã inicial.

Por exemplo, na Filocalia: coletânea de textos dos chamados padres do deserto, textos escritos nos séculos III e IV da nossa era.

Também na literatura cristã mais recente, podemos encontrar a referência à meditação com o instrutor no texto A Nuvem do Não Saber, de autor anônimo do século XIV.

As referências podem ainda ser encontradas em muitos outros textos: do poeta místico Rumi, de mestres hindus, taoístas e socráticos, nos papiros egípcios, etc.

Em todos os casos, trata-se da meditação apenas com o instrutor, ou seja, meditação em que o instrutor e o aluno praticam juntos, sem outras pessoas presentes.

Mas em muitos casos, na história da transmissão do grande conhecimento e do desenvolvimento interior, temos notícias da meditação ensinada e praticada em grupo.

Esse é o caso mostrado no filme do qual falamos acima.

Esse caso já é bem mais divulgado. E qualquer leigo já viu filmes, ou imagens nos livros, mostrando monges tibetanos, ou mestres indianos, ou taoístas ou outros, reunidos com um grupo de alunos, e praticando, todos juntos, a meditação.

Sempre há aqui, mesmo que isso não seja colocado em relevo, a presença de um instrutor principal; às vezes, de instrutores auxiliares.

De modo que esses dois grandes casos – a meditação apenas com o instrutor e a meditação em grupo com o instrutor – cobre a totalidade do ensino tradicional da meditação, isto é, do ensino da meditação levado a cabo por pessoas realmente qualificadas.

E – As exigências se satisfazem no instrutor

Não importa o nome que se queira dar àquele que detém os meios necessários, e se dedica a conduzir outras pessoas no caminho do desenvolvimento interior.

Há muitos nomes: mestre, guru, guia, professor, pai – daí padre – etc. Nesse site nós denominamos instrutor.

No post anterior acima citado, ao falarmos sobre as reais dificuldades de aprender e progredir na meditação, nós falamos sobre as três exigências:

  • a exigência do conhecimento,
  • a exigência da energia, e
  • a exigência da verdadeira

Pois bem, aqui queremos afirmar enfaticamente:

  • as três exigências se satisfazem no instrutor, na pessoa do instrutor, tanto no caso da meditação apenas com o instrutor, quanto no caso da meditação em grupo com o instrutor.

Sim, e é por essa razão que em cem por cento dos casos, nas escolas – iniciáticas, esotéricas, religiosas ou qualquer nome que se queira dar a elas – repetimos, é por isso que nas escolas o ensino e a prática da meditação sempre são feitos na presença do instrutor.

Vamos compreender bem: isso não quer dizer que os alunos, quando já têm algum treinamento, não tenham que praticar sozinhos também; têm que praticar sim.

Mas para o seu aprendizado inicial – e depois para que se desenvolvam até se tornarem bem proficientes na prática – a presença do instrutor é imprescindível.

E quando falamos em presença do instrutor, estamos nos referindo à presença física.

E a presença física é imprescindível para que se cumpra o atendimento pleno às três exigências.

A exigência do conhecimento estaria sim garantida, se o instrutor estivesse conduzindo uma sessão de meditação à distância, por videoconferência ou algo do tipo.

Mas a exigência da energia, e a exigência da verdadeira vontade, só poderão ser devidamente satisfeitas, se estiver garantida a presença física do instrutor.

No próximo post vamos poder falar mais detalhadamente sobre essa questão, a da imprescindibilidade da presença física do instrutor.

Por ora, basta-nos procurarmos nos compenetrar de que as três exigências se satisfazem, todas, na pessoa do instrutor.

F – O que está por trás do sucesso nos dois casos citados: uma quarta exigência

Citamos antes os dois grandes casos:

  • meditação apenas com o instrutore
  • meditação em grupo com o instrutor.

E afirmamos enfaticamente que, em qualquer um desses casos, as três exigências se satisfazem na pessoa do instrutor.

Essa expressão – as exigências se satisfazem na pessoa do instrutor – significa que elas, as exigências do conhecimento, da energia e da verdadeira vontade, encontram condições para serem satisfeitas, se houver a presença física da pessoa do instrutor.

  • Significa que o conhecimento pode de fato ser transmitido pelo instrutor e assimilado pela pessoa que aprende;
  • significa ainda que a energia necessária para realizar, e transpor, as fases do processo, pode ser de fato acessada e movimentada;
  • e significa também que a verdadeira vontade pode de fato atuar onde e quando for necessária.

Mas há ainda uma quarta exigência, não citada até agora, e que também precisa ser satisfeita.

É ela que está escondida, invisível e silenciosa, por trás dos casos citados: é a exigência da passividade, por parte da pessoa aprendiz, queremos dizer.

Busquemos entender, ainda que de modo bem inicial, o que significa essa passividade da pessoa aprendiz.

A cada instante da nossa vida – a cada pequena porção de milésimos de segundo, o tempo de um piscar de olhos – estamos manifestando-nos, seja de forma passiva, seja de forma ativa.

Na forma passiva, estamos apenas recebendo e digerindo, por assim dizer, as impressões que nos vêm do mundo, inclusive do nosso mundo interior; de certo modo, nessa forma parece que nós não estamos fazendo nada.

Por outro lado, na forma ativa, nós estamos agindo: através dos nossos impulsos, das reações emocionais e corporais, dos movimentos, das alterações de postura, dos pensamentos que se desenrolam na nossa mente, e etc.

E tudo isso, com maior ou menor controle de nossa parte.

Chamemos de passividade às pequenas porções de tempo – alguns segundos, alguns minutos ou vários minutos – em que estamos manifestando-nos, predominantemente, na forma passiva acima descrita.

G – Tudo junto ao mesmo tempo

Quando a meditação é aprendida – e ensinada – com tudo junto ao mesmo tempo, os resultados são palpáveis, polpudos e surpreendentes.

Com tudo junto ao mesmo tempo quer dizer:

  • em primeiro lugar: com conhecimento, com energia e com a verdadeira vontade, condições que se realizam com a presença física de um instrutor bem preparado e experimentado;
  • e em segundo lugar, tudo junto ao mesmo tempoquer dizer: também com a passividade da pessoa aprendiz.

Procuremos entender bem este último ponto.

passividade da pessoa aprendiz não é fácil de ser obtida.

Deve haver sim um empenho – concordância, desejo – da parte da pessoa aprendiz.

Mas isso, embora necessário, não é suficiente.

A verdade é que a pessoa aprendiz sozinha, em sua casa, não consegue ficar, por alguns minutos que seja, totalmente passiva, em estado de passividade.

passividade precisa ser aprendida, treinada e estabilizada. Só então poderemos contar com ela.

Mas, voltemos ao primeiro parágrafo deste tópico.

Quando temos tudo junto ao mesmo tempo, os benefícios da meditação, esboçados em post anterior, começam a aparecer de imediato.

O que parecia ser quase uma impossibilidade – aprender a meditar, e extrair da prática continuada todos os benefícios terrestres e extraterrestres da meditação – torna-se agora uma possibilidade bem real; não só possível, mas bem plausível; mais ainda, bem provável.

E a questão que se coloca agora é:

  • “por que aprender e se desenvolver na prática da meditação se torna tão mais fácil, quando temos tudo junto ao mesmo tempo, ou seja, quando temos a presença de um instrutor capacitado e a passividade da pessoa aluna?”

A resposta a essa pergunta vai aumentar em muito a nossa compreensão sobre o assunto da meditação e, consequentemente, sobre a potência mental.

Vamos respondê-la no próximo post, no qual estaremos tratando da Meditação SCSC.

H – Conclusão: as condições apropriadas para o sucesso na meditação

Neste post, começamos nos dando conta de que a aprendizagem da meditação, por tentativa e erro, acaba gerando uma altíssima taxa de insucesso.

Então revelamos um segredo: é quase impossível uma pessoa aprender a meditar sozinha, sem a presença de um instrutor bem experimentado.

E dissemos que este é o motivo pelo qual, nas escolas iniciáticas de qualquer tipo, sempre se praticou uma ou outra de duas modalidades: a meditação com o instrutor, ou a meditação em grupo com o instrutor.

Qualquer das duas modalidades satisfazem às três exigências para o aprendizado da meditação: a exigência do conhecimento, a exigência da energia e a exigência da verdadeira vontade.

Então falamos sobre uma quarta exigência: passividade da pessoa aprendiz.

E concluímos que: quando temos tudo junto ao mesmo tempo – ou seja, quando todas as exigências estão sendo satisfeitas – então teremos resultados palpáveis e polpudos.

 

E quanto a você? Depois de ler este post está convencida, ou convencido, sobre o fato de ser imprescindível a presença de um instrutor experimentado, para que você aprenda a meditação? Compreendeu ainda que a passividade é ingrediente também imprescindível; e que deve ser aprendida, treinada e estabilizada, nas aulas com o instrutor? Enfim, você está agora de fato preparada, ou preparado, para ouvir falar sobre a Meditação SCSC?

 

Entre em contato agora: escreva um e-mail para euclides@grupodecasais-busca-scsc.org

 

Foto: autoria desconhecida

Um comentário

  1. Achei o texto bastante interessante, vem para enfrentar essa tendência atual em acreditar que na era da informação todos têm condições de ser autodidatas em tudo, basta acessar um site especializado ou o canal de vídeo de fulano ou beltrano. Talvez vá de encontro ao nosso orgulho assumir que existem campos em que não podemos atingir maturidade sem ajuda, muitas vezes sequer fazer algum progresso significativo.

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